O planejamento de viagens no início dos anos 2000 representava um exercício de paciência e meticulosidade, realizado quase inteiramente através de recursos físicos e consultas presenciais. Antes da popularização dos smartphones e da conectividade omnipresente, viajantes precisavam contar com pesadas listas telefônicas ou um livro cep em disquete ou CD-ROM para conseguir códigos postais essenciais para enviar cartas ou encomendas. Esta era, situada no limiar entre o analógico e o digital, possuía um charme e uma série de desafios particulares.
Pesquisa em Agências de Viagem Físicas
O primeiro passo para qualquer viagem mais elaborada era uma visita a uma agência de turismo. Os balcões eram adornados com brochuras coloridas de destinos, e os agentes consultavam grandes pastas com tarifas aéreas e pacotes promocionales. A reserva de passagens aéreas dependia de sistemas computorizados rudimentares, e os bilhetes eram emitidos em papel, muitas vezes necessitando de ser levantados no aeroporto.
Mapas Rodoviários e Guias em Papel
Para viagens de carro, o viajante dos anos 2000 dependia de mapas rodoviários dobrados, que se tornavam ilegíveis nas dobras com o tempo. Guias de viagem como os da coleção Lonely Planet ou Guia Quatro Rodas eram bíblias indispensáveis, contendo listagens de hotéis, restaurantes e atrações, todas desatualizadas no momento da publicação.
Comunicação por Telefone e Cartão Postal
A confirmação de reservas de hotel era frequentemente feita por telefone fixo, com chamadas de longa distância que representavam um custo adicional. Durante a viagem, a comunicação com familiares era mantida através de cartões postais, que chegavam ao destino dias ou semanas após o viajante, ou através de chamadas rápidas e caras de cabines telefônicas.
Fotografia Analógica e a Incógnita do Resultado
As viagens eram documentadas com câmaras de filme, com uma capacidade limitada de 24 ou 36 fotos por rolo. O viajante só via as suas fotografias semanas depois, ao levantar os envelopes de fot impressas na drogaria local, numa lotaria de imagens que podiam estar tremidas, mal focadas ou com o dedo à frente da lente.
A Ausência de Navegação em Tempo Real
Sem GPS nos telemóves, a navegação era feita com mapas e através do conhecimento de sinais rodoviários e placas indicadoras. Perder-se era comum, e parar em postos de gasolina para pedir indicações era uma parte rotineira e social de qualquer viagem longa.
Planear uma viagem nos anos 2000 era um processo tangível e, de muitas formas, mais envolvente. Exigia uma interação humana mais profunda, uma paciência que hoje nos parece arcaica e uma fé na sorte e na bondade de estranhos. Esta abordagem analógica, embora menos eficiente, criava memórias e aventuras que eram, em si mesmas, uma parte fundamental da experiência de viajar.